domingo, 26 de junho de 2011

Nunca te esqueças de mim - Capítulo II

Francisco estacionou o carro mesmo em frente à estação de comboios e ambos saíram do seu interior para retirarem as malas do porta-bagagem. Lara, agora com dezassete anos, parecia de novo uma criança, a mesma que todos os anos parte em viagem para casa dos avós com a mesma vivacidade e alegria.
Caminharam juntos até à entrada e foi ali que ambos se despediram.
- Lara, tem…
- Tem cuidado com as malas, não fales com estranhos, toma atenção às paragens… Já ouvi isso tudo, maninho.
- Eu ia apenas dizer “Tem um óptimo Verão”.
- Ah, obrigado então. – disse sorrindo – Vai dando notícias de todos. E o Pedro que não nasça antes do tempo!
- Ele vai esperar por ti. – disse Francisco ao aproximar-se de Lara para lhe dar um beijo de despedida.
Francisco voltou a entrar no carro e acenou. Sorridente, Lara retribuiu, baixando-se depois para agarrar nas malas.
Na estação não se encontrava o movimento caótico das manhãs. Pelo contrário, estava tudo calmo e Lara pôde caminhar livremente até à bilheteira. Ela sabia que seria assim e, por isso, pediu para ir apenas àquela hora do dia.
Não viu ninguém do outro lado do vidro e bateu para que alguém a viesse atender. Uma cabeça despenteada surgiu de repente, com rosto de quem tinha acabado de acordar e a verdade é que tinha mesmo. O Sr. Eduardo Gomes, segundo constava no cartão que tinha preso ao bolso da camisa, de tão cansado que estava da azafama da manhã, acabou por adormecer em serviço. Pediu desculpa e vendeu-lhe o bilhete para o destino que pedira. Lara tinha imensa vontade de rir com o sucedido, sobretudo depois de ter voltado as costas ao funcionário e ter visto por cima do seu ombro a mesma cabeça deixar-se cair novamente e desaparecer por detrás do vidro. Por certo, adormeceu novamente, pensou.
Sentou-se num dos bancos da estação e ali permaneceu à espera de um comboio que teimava em não vir. Isso ou a inquietação de voltar a ver os avós e a pequena terrinha era enorme. Na quinta também esperavam o seu regresso impacientes, especialmente a sua fiel amiga Thaís, a égua negra de raça Frísio que os avós lhe tinham oferecido pelo seu décimo quinto aniversário. Lara sentia já saudades de montar e percorrer ao sabor do vento os vastos campos na aldeia, junto ao rio, por onde passava sempre nos seus passeios com Thaís. Um reflexo apaixonante do sol de todos os dias, convidava a jovem a mergulhar nas águas límpidas e calmas. Na sombra da maior árvore junto ao rio deixava a égua e a sua máquina fotográfica, que também levava consigo para onde quer que fosse. São muitas as recordações de Verão na quinta eternizadas nas fotografias que enchem e preenchem as paredes do quarto de Lara.
Ao fundo da linha férrea começou a avistar-se o comboio. Ao parar, as portas abriram-se e Lara teve apenas de optar pela carruagem na qual queria fazer a sua viagem. Escolheu, entrou e sentou-se num dos últimos bancos. O comboio arrancou e a viagem acabara de começar.
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Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo."