segunda-feira, 27 de junho de 2011

Nunca te esqueças de mim - Capítulo III

A viagem não foi tão longa quanto esperava e em pouco mais de duas horas começou a reconhecer os campos verdejantes onde passava grande parte dos seus dias. Descobriu também o curso de água do rio, tão seu conhecido, e o reflexo de um mesmo sol ali se encontrava, cativante e vigoroso. Os olhos esbugalhados de Lara tentavam captar toda aquela beleza e a sua mente foi invadida por pensamentos, recordações e imagens de Verões passados que sempre permaneceram em si. Não soube explicar o que sentiu, porém, sabia que aquele sítio era naquele momento um lugar diferente. Soube que ali algo tinha mudado.
Mesmo antes de o comboio parar já Lara sorria ao avô António que sentado no banco da estação esperava pela sua adorada neta. O velho senhor ao vê-la descer da carruagem caminhou na sua direcção para a ajudar com as malas. Lara não deixou que o avô as segurasse e abraçou o velhote que já não via há precisamente um ano.
- Que saudades, avô! – exclamou ela, enquanto o sufocava de ternura.
- Deixa-me ver-te bem. Cresceste tanto desde a última vez que estiveste cá, minha pequena.
O avô António nutre um carinho especial por Lara, talvez por ser a única menina de quatro netos, e desde que nasceu e, por muito que cresça, a jovem nunca deixará de ser a sua pequena e protegida.
Foi com enorme alegria que percorreram o caminho até à Quinta das Lágrimas. O estacionar da carrinha foi acompanhado por um pequeno e ainda fraco latido. Lara olhou à sua volta tentando perceber de onde vinha tal som. Viu um pequeno São Bernardo correr na sua direcção. Abriu a porta da carrinha e deixou que o cão pulasse à sua volta.
- É filho da Alana? – perguntou Lara ao seu avô.
- Diz antes filha. – respondeu – Estávamos à espera da tua chegada para lhe dares um nome.
Agarrou o focinho da cadela com todo o cuidado e olhou-o fixamente.
- Tens cara de Eva.
A pequena cadela mostrou-se satisfeita com o nome escolhido ao lamber o rosto de Lara, a qual a recompensou com um sorriso e mais umas quantas festas.
- Vamos para dentro, Lara. A tua avó já tem com certeza o lanche preparado para ti. – disse o seu avô antes que Lara ficasse resto o dia a brincar com a sua nova companheira.
- Vamos, claro.
Quando Lara entrou na casa, o cheiro a panquecas acabadas de fazer pairava no ar. Enquanto seguia o caminho até à cozinha olhava para tudo à sua volta, como se fosse a primeira vez que ali estava, sabendo ao mesmo tempo que nada saiu do seu devido lugar. Como em todos os outros Verões, a casa permanecera idêntica.
- ‘Vó Alda! – exclamou a jovem ao entrar na cozinha. Correu para junto da sua avó e abraçou-a fortemente.
- Fiz panquecas para ti. – disse Esmeralda – E também aquele doce de morango que tu tanto gostas.
- Que saudades que tinha destes miminhos. – afirmou Lara com um sorriso de orelha a orelha, feliz por estar de regresso ao lugar onde realmente pertencia.
Capítulos anteriores:

2 comentários:

"Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo."