quarta-feira, 29 de junho de 2011

Nunca te esqueças de mim - Capítulo IV

A conversa do lanche foi longa. Lara mostrou-se bastante entusiasmada por estar ali, para grande surpresa dos avós, que tinham sido alertados por Carmo e Jorge, pais da jovem, para a instabilidade emocional pela qual estaria a atravessar naquele momento.
Há três meses atrás, Lara e Duarte viviam os melhores momentos das suas vidas, até que o pior aconteceu. O rapaz dos cabelos castanhos, dos olhos verdes e do sorriso contagiante que tinha conquistado Lara não mais estaria ao seu lado. Não mais as longas tardes de conversa no jardim da avenida, os piqueniques à beira do lago, as sessões de sorrisos para a máquina fotográfica. Uma meningite arrancou-lhe o bem mais precioso que tinha na sua ainda curta vida. «Não merecias isto», repetia ela, vezes e vezes sem conta, antes de adormecer envolta em lágrimas. Isolou-se do mundo. Só ia à escola porque tinha mesmo de ser, mas o seu nível escolar manteve-se estável pois Lara concentrou-se bastante nisso para não pensar demais e poder vir a cometer alguma loucura. Os livros foram também um porto de abrigo para a jovem, que passava horas presa às histórias com um final feliz, imaginando o seu ao lado de Duarte.
Esmeralda, sempre muito atenta a tudo o que a neta ia dizendo, percebeu nos olhos de Lara que no fundo esta ainda não tinha ultrapassado a morte do seu amigo especial e, por isso, evitou tocar nesse assunto.
- Quem quer ir dar um passeio pela quinta? – perguntou Esmeralda.
- Eu quero. Quero ir ver a Tha! – exclamou animada Lara.
Os estábulos ficavam a uns metros da casa principal. Num passo apressado quase nem deixou que os avós a acompanhassem pelo caminho. António já tinha preparado a égua para que Lara a montasse antes de partir para a estação. Sabia exactamente que seria isso que ela mais queria assim que chegasse à quinta. Os olhos meigos de Thaís cruzaram-se com os de Lara, reconhecendo-a de imediato. O relinchar foi de felicidade por reencontrar a sua pequena amiga de duas pernas.
- Posso ir dar um passeio com ela? – perguntou, dirigindo-se aos avós.
- Trouxemos-te aqui para isso mesmo, minha pequena. – respondeu o seu avô.
Lara subiu para o dorso da bela égua e num trote lento abandonou os estábulos sob o olhar atento dos avós.
- Estou em casa antes do jantar, prometo.
Os campos verdes esperavam por ela ao fim de todos estes meses. Thaís galopou contra o vento. Tanto ela como Lara gostavam de sentir a liberdade atravessar-lhes pelos corpos. A sensação de pertencer a nada e a tudo ao mesmo tempo. Lara sentiu o vento acariciar-lhe o rosto como se lhe declarasse que era bem-vinda novamente àquele lugar.
Thaís sabia bem que direcção havia de tomar e desceu a colina. As águas começaram a reflectir-se intensamente nos olhos de Lara à medida que se aproximavam da beira do rio. A jovem desceu da égua e ambas caminharam pela margem até à grande árvore. Amarrou as cordas a um dos troncos para que Thaís não se afastasse, tirou a t-shirt e os calções que trazia vestidos e regressou à margem. As águas continuavam calmas e de tão claras, permitiam que Lara visse todas as pedras, grandes e pequenas, em repouso no fundo.
Sentada à beira do rio, a jovem permaneceu por longos minutos a mergulhar a sua mão na água. Acabou por não conter as lágrimas e o seu rosto parecia tão inundado quanto o curso de água que passava mesmo ao seu lado. Duarte era o motivo. Agora que se sentia sozinha naquele lugar, podia ser fraca – assim pensava ela. Lara tinha plena consciência que nunca mais seria a mesma pessoa a partir do momento em que soubera que Duarte tinha falecido. Sabia que iria sofrer para o resto da sua vida, culpando-se todos os dias, dizendo amá-lo de uma forma estupidamente débil, deixando que a morte o arrancasse de seus braços.
Olhou o céu procurando alguma face que lhe fosse familiar e nada reconheceu. Baixou a cabeça e viu o seu reflexo na água. Contudo, um outro rosto surgiu atrás dela.
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7 comentários:

  1. oh, que amor que tu és. e eu prometo que mal tenha tempo, venho cá e leio esta história todinha, do início até onde já escreveste. tens a minha palavra.

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  2. está a ficar tão bom :) gosto mesmo e cada parte é tão boa :D

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  3. Não conhecia estes capítulos e fiquei fascinada! Continua :)..obrigada pelo comentário querida *.*

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  4. lindíssimo, vou ler os outros capítulos!

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"Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo."