sexta-feira, 24 de junho de 2011

Nunca te esqueças de mim - Capítulo I

O Verão acabara de chegar. Os intensos raios de sol que entraram pela janela do quarto de Lara anunciaram-lhe a estação pela qual ela mais ansiava. Abriu os olhos devagar, pois tanta luz não permitiu que o fizesse de outra maneira, mas de seguida levantou-se o mais rápido que conseguiu, calçou os chinelos e correu até à cozinha.
- Bom dia, Lara. Já tens tudo preparado para a viagem?
Como em todos os anos anteriores, Lara passará uma vez mais o Verão na quinta dos avós, na pequena aldeia que a vê crescer a cada ano que passa. Tinha meses de vida quando lá foi pela primeira vez com os seus pais e, este ano, fará a viagem sozinha pois ambos se encontram a trabalhar este Verão.
- Está quase tudo. Falta-me apenas escolher um livro para ler durante a viagem. – disse Lara ao mesmo tempo que se debruçava sobre a sua mãe para lhe dar um beijo de bom dia.
Arranjou o seu pequeno-almoço de todos os dias – um pacote de bolachas e um copo de leite fresco – e voltou a subir as escadas em direcção ao seu quarto. Ao abrir a porta, iniciou a difícil tarefa de escolher um livro, apenas um, para a viagem. Três estantes repletas de letras. Meia estante lida, o resto por ler.
- Não vou conseguir escolher. – pensou ela.
Fechou os olhos, esticou o braço e com o dedo indicador apontou para um dos muitos livros às cegas.
- Chocolate. Boa escolha, Lara! – disse falando sozinha e para si própria.
Arrumou o livro dentro da mala, caminhou até ao armário e retirou de lá a t-shirt e os calções de ganga clara que escolhera para vestir no dia anterior. Calçou os ténis com o padrão floral que tanto adora e encaminhou-se de seguida para a casa-de-banho. Escovou o cabelo e voltou a despenteá-lo de seguida. «Vá se lá compreender esta rapariga», como diz o avô António.
- O almoço está na mesa, Lara. – gritou a sua mãe ao fundo das escadas.
- Desço já.
Pousou a escova junto ao necessaire que já estava preparado para levar para casa dos avós e desceu as escadas. Entrou na cozinha e sentou-se à mesa.
- O teu irmão vem buscar-te depois do almoço e deixa-te na estação.
- Está bem. – respondeu ela.
Mesmo no fim da refeição a campainha tocou. Era o Francisco, o irmão mais velho de Lara. Saíra há acerca de meio ano daquela casa, depois de se ter casado. O seu irmão é o seu melhor amigo e confidente, para além de companheiro de brincadeiras constantes. Lara sentiu muito a falta de Francisco nos primeiros tempos, mas agora parecia estar habituada à ideia de o seu irmão estar mais crescido do que pensava ser possível.
- Francisco! – exclamou ela correndo para os seus braços. – Como estás?
- Bem, e a menina?
- Também. A Maria e o Pedro, como estão?
- Estão os dois óptimos.
- E quando é que o meu sobrinho lindo nasce?
- Vais fazer essa pergunta até ele nascer, não vais? – perguntou Francisco, sorrindo.
- Como é que adivinhaste? – brincou Lara, retribuindo o mesmo sorriso rasgado ao irmão.
Entraram em casa e voltaram a sair com as malas de viagem. Lara deu um beijo à sua mãe e entrou no carro.
- Porta-te bem e ajuda os teus avós.
- Sim, mãe. Já sei isso tudo. – disse Lara com ar de quem está sempre a ouvir a mesma história.
- Diverte-te!
- Obrigado, mãezinha. – disse Lara sorridente.
Francisco ligou o carro e ao mesmo tempo Lara abriu a janela. Colocou a mão do lado de fora e acenou em jeito de despedida à mãe que ficara à porta de casa vendo o automóvel afastar-se.

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"Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo."